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AS CEBs

Ouvimos de muitos animadores e animadoras  expressões como esta: “como é bom viver a nossa fé a partir das COMUNIDADES, a comunidade é minha segunda família, mas está tão difícil... tem agente de pastoral que prefere não investir em comunidade, tem emissoras de TV que mostram uns programas religiosos que geram tanta confusão na cabeça das pessoas”...

Sabemos que na comunidade encontramos pessoas novas; por isso é bom lembrarmos como começou esse jeito bonito de vivermos nossa fé batismal: as comunidades eclesiais de base (CEBs).
Vamos recordar um pouco da nossa história...
Antes de 1960, a Igreja Católica vivia longe do povo, falava uma linguagem que ninguém entendia, padres e religiosas não se “misturavam” com o povo, etc...o Papa João 23 percebendo que era preciso um “vento novo” na estrutura da Igreja Católica convoca o Concílio Vaticano 2o, que foi para nós um “novo pentecostes”.

Com o Concílio Vaticano 2o muita coisa modificou no caminhar da nossa Igreja. A nível de Brasil e nos demais países da América Latina, muitos  outros acontecimentos  , contribuíram para o  “nascimento” das COMUNIDADES...

A Comunidade é o lugar no qual acontece a vida da gente com as outras pessoas. Encontramos por este Brasil a fora diversos tipos de viver em  comunidade.

O jeito que nós fomos construindo a partir de 1960, denominamos de COMUNIDADE ECLESIAL DE BASE. É uma Comunidade de Fé! Formada por gente que vive junto a partir e por causa de sua fé em Jesus. É o povo de Deus, abençoado por Jesus, que se reúne para tornar vivo seu Projeto, o Reino de Deus. Nós nos referimos à comunidade enquanto Igreja, por isso dizemos que é eclesial.
Para ser considerada eclesial, a COMUNIDADE precisa ser:

Ø Comunidade de fé, onde se ouve e vive a Palavra de Deus
Ø Comunidade sacramental que celebra e vive os sacramentos
Ø Comunidade fraterna que constrói relações de participação, de serviço, de igualdade e também comprometida com a transformação da sociedade
Ø Comunidade missionária que se alegra em levar aos outros o Projeto do Reino de Deus.

E por que de BASE ? – a comunidade eclesial é básica, é a menor célula da organização da Igreja, como num colar de miçangas. Cada “conta” é como se fosse uma comunidade. O colar só existe, se antes, existirem essas contas. Assim, dizemos que elas são básicas. Assim é a Igreja, só existe se existirem as comunidades.
CEBs não são uma pastoral mas um “jeito de ser Igreja”. Envolve todas as pastorais e movimentos. Lá nós procuramos assegurar os ministérios ou serviços como: catequese, cuidado aos doentes, organização da liturgia; um programa de vida e atividades comunitárias: cultos, formação, festas, sacramentos; uma coordenação que articule as atividades e anime a caminhada de toda comunidade. Uma CEB nunca está pronta, está sempre em processo de construção, conversão e crescimento. Por isso não deve faltar a formação permanente para as lideranças e o povo em geral.

Ainda nesta relação devemos distinguir bem o que são as comunidades, a paróquia e os movimentos. A Paróquia é uma organização maior em relação às Comunidades Eclesiais de Base. Foram criadas para propiciar justamente a vida em comunidades. Com o tempo elas foram crescendo e se tornando impessoais. No Brasil, desde 1962 que se fala da “necessidade urgente de renovação da Paróquia”. Mas infelizmente, poucos passos foram dados nesse sentido.

Qual a relação entre CEBs e Paróquia?
É possível ver dois modos nessa relação:

1.Paróquia de CEBs: a paróquia figura como um grande colar e cada “conta” é uma comunidade. A beleza está tanto na interação entre cada conta e sua integração formando o colar, como também na importância desempenhada por cada uma,  faltando uma conta, cria um “oco”, um buraco a ser preenchido. Quem dá o perfil à paróquia são estas comunidades. A paróquia seria o centro de referência e de serviço, com meios e recursos que não precisam estar em cada comunidade. Na cidade é importante não deixar que as famílias do “centro” se sintam desobrigadas de formar comunidade porque já moram perto da “matriz”. Nesse jeito de ver a paróquia até a palavra “matriz” desaparece, já que as outras comunidades não são filiais. A não ser que seja entendida como a “Igreja Mãe”, que serve a todos.

2.Paróquia com CEBs: nesse esquema as CEBs existem na paróquia mas não são o eixo da vida e ação paroquial. Podem até se articular entre si, mas são um corpo autônomo em relação à estrutura e à organização paroquial. Não existe a “rede de comunidades”.

3.Os Movimentos: os movimentos não são a Igreja, mas estão na Igreja, como o braço não é o corpo, mas está no corpo. Com isso não se diminui em cada um o valor dos movimentos, como não se diminui o valor do braço ou da cabeça afirmando que eles não são o corpo.

Se tomarmos como base a década de 60 e chegarmos aos nossos dias, muita coisa aconteceu. Na Igreja Católica no decorrer destas cinco décadas muitos avanços e recuos. Para exemplificar o contexto que estamos vivendo vamos conhecer esta história.

Durante a preparação do 5o Encontro Latino-americano de CEBs, que aconteceu em setembro de 2001 na Argentina,  foi entregue um informativo de uma comunidade que narrava uma situação que poderá ilustrar o contexto que vivemos atualmente:

Havia um bairro muito tranquilo. De tão tranquilo era até chato. Até que chegaram uns padres missionários, quando começaram a nos reunir para conversar sobre o bairro. Visita vai, visita vem, e entre uma e outra xícara de café a gente ia se achegando. Cada um com sua história. Os padres colocaram a Bíblia, e nós, nossa fé. E assim foram se formando as comunidades.
Nossa paróquia se chama Cristo Operário. Muito humilde. Teto de madeira, as paredes sem rebocar (nunca sonhamos com algo melhor). Havia sim: muito calor humano. Este era o lugar de reunião aos domingos: a missa, reunião de formação dos catequistas, conselho paroquial...
E o resto dos trabalhos? Todos no bairro: Encontros bíblicos em casa de dona Rosa, missão em todas as casas, vendas de pastéis para conseguir fundos para dona Joana que está internada, uma pequena festa comunitária para Gustavinho que mais tarde falece de um tumor no cérebro, com 19 anos. E junto estava Teresa portadora do vírus HIV, entre outras pessoas.
De onde são vocês? – As pessoas perguntam.
Somos de “Cristo Operário”, quer dizer, da Paróquia; participamos de uma de suas comunidades.

Nós somos um bairro pobreque sofremos com o desemprego, a marginalização, a corrupção e o que é pior: a violência.
Jesus um dia deixou uma mensagem: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. E nos explicou: “para quem me segue não será fácil...” e se achegou a nós.
Um dia nossos padres se reuniram, e com muita diplomacia disseram-nos: “Vocês já amadureceram, estão unidos, têm a fé muito consciente. Há lugares que nos necessitam mais do que aqui.” Para ser breve: se foram.
Em 1999, chegou um novo sacerdote que nos disse: “Todos os trabalhos se fazem na paróquia. Nada no bairro. Tudo que for recolhido no sábado será para colocar cerâmica nos salões. E o teto será trocado...”
O domingo foi o dia mais triste. Nós que estávamos acostumados a compartilhar o Evangelho com o padre, só escutamos sua homilia, e segundo seu ânimo e visão. E assim o altar está cheio de ministros e o padre ao centro. Agora temos uma missa paroquial...
Dona Clara nos disse: “O padre disse que não há mais comunidades, pois é perda de tempo.”
Nosso bispo, em uma homilia, dizia-nos: “Vocês não são assistentes sociais, vocês são assistentes espirituais...”
Esta história  é muito comprida para contar. Mas podemos dizer que não é um sonho, é uma realidade. Claro que demos um passo: não podemos nos queixar porque vamos ter uma paróquia luxuosa...
Agora nos perguntamos: uma autoridade eclesial tem o direito de romper com todo o trabalho que vínhamos realizando?

A vocês, um abraço.

Comunidade Nossa Senhora de Luján.


Este espaço virtual quer portanto ser um instrumento (entre tantos outros) para aquelas pessoas que acreditam nas COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE.
Reuniremos textos, fotografias, depoimentos, vivências e sua intervenção.
Que a Santíssima Trindade, a melhor Comunidade, nos embale no Seu Colo, nos guarde em Seu Coração e nos anime neste caminhar.

Pe Edegard Silva Júnior